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Decisão polêmica da OMS enriquece a indústria e aumenta o preconceitoDecisão polêmica da OMS enriquece a indústria e aumenta o preconceito

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Publicado em 20/07/2021, Por R7

A decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de incluir a velhice na mais recente atualização da Classificação Internacional de Doenças (CID) a partir de janeiro de 2022, está repercutindo negativamente entre comissões, entidades e especialistas. Diversos grupos estão realizando debates por não concordarem com essa medida imposta.

No Brasil, idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais. Em 2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o país tinha 32,9 milhões de idosos, o equivalente a 13% da população brasileira. Esse número deve dobrar nas próximas décadas, passando para mais de 58 milhões em 2060. De acordo com a OMS, até 2050 os idosos corresponderão a um quinto da população do planeta.

Mas, se essa decisão for mantida, independentemente de ter ou não algum problema de saúde, essas pessoas serão tratadas como doentes, apenas por conta da idade que têm.

Revolta entre especialistas

Parlamentares e especialistas estão protestando contra essa inclusão. Após a realização de uma audiência da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa e da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que examina políticas públicas para o envelhecimento saudável, deputados decidiram formalizar um pedido à OMS para que a decisão seja revista.

"Encarar essa fase da vida como uma doença, ainda mais nos dias de hoje onde falamos tanto sobre longevidade, envelhecimento saudável, é inacreditável e inadmissível. A verdade é que é um retrocesso de tudo que conquistamos até aqui", opina a médica geriatra e psiquiatra, Dra. Roberta França.

A especialista reforça que a velhice nunca foi, e jamais será, uma doença. "É um processo fisiológico, natural da vida. Quantos idosos são extremamente ativos e trabalham? A OMS está traindo tudo que conquistamos e agindo de forma preconceituosa. Pensar num idoso como doente traz inúmeros problemas, tanto para essa pessoa quanto para a forma que a sociedade a enxerga".

Além disso, o médico geriatra, Dr. Alexandre Cavalcante, lembra que o envelhecimento é diferente em cada pessoa. "Há pessoas com 60 anos que têm organismo de alguém de 90 anos e pessoas com 90 anos que têm organismo de alguém de 60 anos. Se fosse assim, deveríamos considerar o envelhecimento biológico e não etário. Estamos diante de um grande problema", lamenta.

Prejudicial para todas as áreas

Envelhecer no Brasil já não é uma tarefa fácil, mas essa nova classificação pode tornar as coisas ainda mais difíceis e ainda encarecer o custo de vida do idoso.

"Doença precisa ser tratada, então, você imagina a quantidade de pessoas que vão querer lucrar em cima dessa decisão, criando remédios mirabolantes, aumentando os valores dos planos de saúde (que já são caros). Isso é muito sério e grave", detalha a Dra. Roberta França.

Encarar a velhice como doença também pode impedir o registro correto das causas de mortes e prejudicar pesquisas científicas. "Quando eu preencho um atestado de óbito ou realizo uma pesquisa científica, preciso colocar um CID e se eu coloco um CID genérico, como velhice, deixo de colocar a doença que, de fato, causou a morte, como, por exemplo, Alzheimer, infarto, AVC. Porque sempre existirá uma doença que levou a pessoa ao óbito. Precisamos desses dados para continuar fazendo pesquisas que visam melhorar as políticas de saúde pública", acrescenta o Dr. Alexandre Cavalcante.

Alimento para o preconceito

É curioso que antigamente os valores eram outros e as pessoas respeitavam os mais velhos.  Atualmente, diversas campanhas lutam para vencer a discriminação que existe contra as pessoas que estão na melhor idade. Só no ano passado, para se ter uma ideia, 48,5 mil registros de violência contra os idosos foram recebidos pelo Disque 100, em todo o Brasil.

Ao vê-los como doentes apenas por conta da idade que têm, a tendência é que o respeito diminua ainda mais. "Lutamos contra o preconceito diariamente. Precisamos preservar os idosos de mais um fator discriminatório. Afirmo com todas as letras que a velhice, por si só, não é uma doença. Ela pode ser vivida com qualidade, autonomia e independência. Tanto que vemos muitos idosos ativos, trabalhando, e isso é ótimo", conclui o médico geriatra, Dr. Alexandre Cavalcante.

A velhice não significa um ponto final, mas sim a continuação da vida e a chegada de uma nova fase, que pode ser muito especial. "Envelhecer é uma conquista. Não tem nada a ver com doença, porque qualquer pessoa, em qualquer época da vida, pode adoecer. Então, precisamos nos posicionar contra essa crueldade e debater", finaliza a Dra. Roberta França.

(FOTO: PEXELS)