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Pandemia alterou o sono e níveis de estresse de brasileiros, aponta pesquisaPandemia alterou o sono e níveis de estresse de brasileiros, aponta pesquisa

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Publicado em 10/06/2020, Por G1/RS

A pandemia do coronavírus deixou os brasileiros mais ansiosos, com problemas no sono e com uma alimentação mais desbalanceada. Ao menos é o que indica uma pesquisa feita em parceria entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e a Universidade de Valencia, na Espanha.

Intitulada "Hábitos saudáveis e estilo de vida durante a pandemia de Covid-19", a pesquisa reuniu as respostas de 22 mil pessoas sobre como o isolamento ou distanciamento social afetou a saúde mental de brasileiros e espanhóis. De maneira geral, os brasileiros relataram sofrer mais mudanças do que os espanhóis. (Veja abaixo)

  • Hábitos alimentares: Brasil, 44%; Espanha, 23%
  • Consumo de álcool, tabaco e drogas: Brasil, 17%; Espanha, 10%
  • Alterações no sono: Brasil, 50%; Espanha, 38%
  • Controle do estresse: Brasil, 51%; Espanha, 34%
  • Rede de suporte social: Brasil, 54%; Espanha, 34%

O professor titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, Flávio Kapczinski, pondera que a pesquisa foi feita por meio de um formulário online (devido às restrições de circulação) e teve a adesão de mais pessoas no Brasil do que na Espanha. De qualquer maneira, ele avalia que, mesmo preliminarmente, é possível constatar que a vulnerabilidade social dos brasileiros ficou mais evidente com a pandemia.

"Isso nos faz pensar no impacto na saúde mental dos meses que estão por vir. Vai haver uma emergência muito grande em condições como depressão e ansiedade", aponta.

 

Relógio desregulado

O professor cita que a pandemia afeta um elemento conhecido na psicologia como "relógio biológico". Segundo ele, as mudanças nas rotinas alteram, também, a percepção das pessoas sobre suas próprias capacidades.

"Precisamos de balizadores sociais pra que o relógio funcione normalmente. Chegar no trabalho, dar oi para os colegas, almoço, reuniões, celebrações, coisas que vão criando um ritmo social", descreve. "Em uma situação como essa, em que nem as famílias podem conviver normalmente, o relógio biológico começa a se desregular. Ao invés de dar mais tempo, deixar a pessoa mais produtiva, gera uma espécie de inibição e afeta na execução de tarefas", sublinha Kapczinski.

Para o professor, é preciso "desestigmatizar" os problemas de saúde mental assim como é tratada a saúde pública. "Entender que, nesses momentos, as mudanças não são de cunho positivo, que se sentir impotentes e vulneráveis é algo perfeitamente aceitável. As pessoas precisam ter esse conhecimento e recobrar o ritmo habitual", afirma.

 

Mais três fases

A pesquisa foi feita entre abril e maio, quando a Espanha estava com fechamento total dos estabelecimentos e no auge da curva de contágio, enquanto que, no Brasil, as medidas de distanciamento eram mais flexíveis e a disseminação, crescente.

De acordo com o professor, ainda é cedo para ter conclusões sobre os efeitos da pandemia na saúde mental dos brasileiros. Ainda mais em um país heterogêneo cultural e climaticamente. Porém, ele alerta que é preciso estar atento a outros problemas subsequentes.

"A pandemia não se resolve quando o vírus deixar de circular. Teremos ondas de impacto econômico e impacto de saúde mental", adverte. "No Brasil, houve uma sobreposição de crises. Teve de saúde pública, mas está havendo claramente uma turbulência política gerando muita incerteza. Isso não contribui, pois certamente os indivíduos se sentem inseguros."

A pesquisa ainda passará por mais três etapas, com a participação de mais pessoas. O objetivo é, ao final, elaborar um aplicativo de celular com orientações para lidar com os problemas mentais causados pela pandemia, até mesmo com uma seção sobre fake news e fontes confiáveis.

No entanto, os pesquisadores decidiram divulgar os resultados parciais para reforçar desde cedo a importância a essas questões.

Um aviso que serve não só para os profissionais da linha de frente que enfrentam a Covid-19 diariamente ou para familiares que perderam parentes para a doença. Mas, conforme ressalta Kapczinski, a todas as pessoas que encontrarem alguma dificuldade econômica ou psicológica.

"Não é um problema aceitar que a crise foi difícil e afetou de maneira catastrófica. A sociedade precisa ser preparada, e isso se faz com comunicação e política pública. Não é incomum que as pessoas se sintam abatidas nem desmoralizadas com essa pandemia", conclui.

(FOTO: FREEPIK)