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Flexibilização do distanciamento social facilitou propagação do coronavírus em SC, diz estudoFlexibilização do distanciamento social facilitou propagação do coronavírus em SC, diz estudo

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Publicado em 23/04/2020, Por GaúchaZH

Estudo feito por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e da Universidade da Região de Joinville mostram que a flexibilização do distanciamento social naquele Estado ajudou a covid-19 a se alastrar entre os catarinenses em um momento em que a doença parecia controlada. Dados apontam que, como provável consequência da retomada parcial das atividades no início de abril, houve aumento "significativo e imprevisto" no número de casos positivos de coronavírus. O salto na quantidade de mortos no Estado, passando de cinco para 22 entre 25 de março e 3 de abril, corrobora a tese dos especialistas em modelagem matemática que participaram da pesquisa.

"Contrastam com esta situação muitas das falas praticadas nesse mesmo período por autoridades do nosso Estado e do nosso país que pareceriam indicar que a situação era muito menos grave e se encontrava, pelo menos em parte, sob controle, tendo levado assim a um grande grupo de cidadãos a desrespeitar de forma manifesta as recomendações de isolamento social", pontua, no levantamento, o professor do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC Oscar Bruna-Romero.

Os dados reais da infecção utilizados no estudo mostravam a curva epidêmica achatada, explica o pesquisador, se aproximando do topo em 1º de abril. Naquele dia, havia 10 mortos e 341 casos confirmados. O entendimento dos especialistas é de que a quarentena revelava-se eficiente, até então.

Essa tendência mudou, porém, com o relaxamento das regras (coincidindo com a janela de tempo entre contágio e aparecimento dos sintomas), o que levou a curva a retomar tendência exponencial de crescimento. Os casos confirmados mais do que dobraram até 8 de abril, chegando a 718 infectados. No mesmo dia, o Estado alcançava a 32ª morte por covid-19. O professor observa que, após suavizar as restrições, a curva atingiu características de países com altíssimo número de casos, como Itália e Estados Unidos.

 

Preocupação no RS

Decretada em 17 de março pelo governador Carlos Moisés, a situação de emergência em Santa Catarina foi afrouxada repetidas vezes desde 23 de março por normativas que permitiram o funcionamento de setores e atividades que vão desde indústrias até cabeleireiros e depiladores (ver quadro abaixo). A mais recente, mas que não reflete no estudo, autorizou funcionamento de academias, shoppings, restaurantes e templos religiosos.

"De posse destes dados, somente podemos concluir que está acontecendo uma aceleração descontrolada da curva epidêmica e que a flexibilização da quarentena, sem possibilidade de identificação dos infectados pela falta de testes diagnósticos, levará de forma irremediável à subsequente infecção de milhares de pessoas, e à convergência quase imediata com as terríveis taxas de contágio e morte associadas que estão sendo observadas em outros países do mundo", alerta Oscar Bruna-Romero.

O Rio Grande do Sul caminha para a maior flexibilização das regras desde o início da pandemia, com normas distintas para cada região. Serão levadas em conta a capacidade de absorção de pacientes no sistema de saúde e a importância econômica de cada atividade. É o que o governador Eduardo Leite está chamando de distanciamento social controlado, previsto para ser aplicado a partir de maio. Presidente do Conselho Regional de Medicina do RS (Cremers), Eduardo Trindade teme que as medidas possam favorecer a disseminação da covid-19 no Rio Grande do Sul, onde a doença está controlada:

— Ha temor, sim. Participei da reunião com o governador na quinta-feira e tudo o que foi exposto deixou muito claro que o êxito vai depender da vontade popular. É muito importante que a sociedade conheça os critérios e esteja ciente que se trata de abertura gradual. Santa Catarina é um típico exemplo de Estado onde a contaminação estava controlada, com curva epidêmica baixa. Foi só fazer a liberação que houve aumento expressivo de casos — compara. — Não podemos cobrar da sociedade uma obediência oriental, mas ela terá de seguir as orientações. Caso contrário, haverá novo fechamento — conclui Trindade.

O médico infectologista Paulo Gewehr Filho avalia que o Rio Grande do Sul está com a doença controlada porque as medidas foram tomadas no momento adequado, permitindo, entre outras ações, equipar hospitais com respiradores e novos leitos de UTI.

— Quando o sistema de saúde está preparado e a doença, controlada, a gente pode pensar em outras medidas para atenuar o distanciamento social. Agora, qual é o tamanho do risco que estamos correndo (com o distanciamento controlado), isso não sei dizer. Gostaria de ver na prática como vai ser fiscalizado, porque as pessoas podem perder a percepção de risco, achar que, agora, não é mais importante ficar em casa ou não entender as novas regras — argumenta.

 

Distanciamento social catarinense em seis atos

17 de março

O governo decreta situação de emergência e proíbe aulas, cultos, missas, festas e outros eventos por 30 dias. Também suspende o transporte coletivo e determina fechamento de hotéis, academias, bares, shoppings e comércio em geral por sete dias.

23 de março

O Estado flexibiliza quarentena e autoriza, com restrições, funcionamento de indústrias, agropecuárias e serviços como manutenção de elevadores.

6 de abril

O Executivo permite funcionamento de diferentes atividades, autorizando a volta aos trabalhos de profissionais como fisioterapeutas, psicólogos, fonoaudiólogos, assistentes sociais, educadores físicos, cabeleireiros, manicures, depiladores, massagistas, advogados, jardineiros, limpadores de piscina, faxineiros e encanadores.

11 de abril

O governo libera abertura do comércio de rua, funcionamento de hotéis, pousadas e similares e restaurantes (apenas para retirada no balcão). Seguem suspensas até 30 de abril a operação do transporte coletivo, a abertura de shoppings, centros comerciais e galerias e a permanência de pessoas em bares, cafés, restaurantes e similares. Continuam interrompidos até 31 de maio aulas, eventos ou reuniões públicos ou privados, excursões, cursos presenciais, missas e cultos religiosos.

17 de abril

Governo decreta estado de calamidade pública por 180 dias, o que permite ao Estado intervir em propriedades privadas, como hospitais, para incluir profissionais da saúde com pagamento de indenização baseado na Tabela SUS. Demais regras seguem inalteradas.

20 de abril

Atividades religiosas em igrejas, templos e afins são autorizadas desde que obedecidas algumas restrições, como número de ocupantes e distanciamento entre as pessoas. O governo anuncia também a liberação, com restrições, para o funcionamento de academias, escolas de natação, restaurantes, shopping e galerias.